ESCOLHENDO O VELEIRO CERTO
Decidindo pela compra de um Barco com
mais de 20 anos
Uma questão que precisa ser considerada
é que um barco com 20 anos de uso precisa trocar o estaiamento, os tanques de
combustível e de água, o motor, além de fazer melhorias no sistema elétrico
trocando fiação e disjuntores. Tais melhorias podem chegar a 50% até 100% do
valor de investimento inicial. Por isso pense bem antes de comprar um usado com
20 anos ou mais de uso. Você pode estar pagando somente a metade do valor no
barco e a outra metade você vai pagar na reforma.
Contudo, se você tiver a sorte e
persistência que eu tive pode encontrar um barco em que o dono já fez todas
essas trocas, foi o meu caso! O Zabawa teve a parte elétrica toda trocada,
armários, piso, motor retificado, entre inúmeros outros equipamentos trocados por
volta de 2010, então, comprei um Brasília 32 de 1980 que está com aspecto
interno e externo de um Barco de 2010!
Questões Financeiras Importantes
É comum se gastar na compra do barco
mais que o orçamento inicial disponível ou mesmo gastar mais dinheiro em
equipamentos não necessários ou essenciais e acabar ficando com pouca
disponibilidade financeira para começar a utilizar o barco. Evite comprar um veleiro
que não caiba no seu bolso, fica difícil mantê-lo e rapidamente se transformará
num pesadelo com perda significativa de recursos.
O ideal para quem tem um orçamento
limitado é gastar menos na compra de um veleiro que seja bem construído ou
comprar um veleiro novo, porém um pouco menor que o veleiro dos seus sonhos. Em
seguida você deve comprar os equipamentos necessários para o tipo de cruzeiro
que você pretende fazer, sem os quais não será possível ter sucesso na
empreitada, por questões de segurança ou mesmo por questões de obrigações
legais.
Se você deseja fazer um cruzeiro de um
ano ou mais, você deve calcular que um casal consumirá, em cruzeiro, entre R$
1.500 e R$ 3.000 por mês, considerando pequenas despesas com o barco. Se o
objetivo for fazer um cruzeiro pelo prazo de um ano, o casal deverá ter, além
do capital para compra do veleiro, disponível o equivalente a R$ 36.000. Depois
de calculado o prazo total em anos da viagem você deverá multiplicar por R$
36.000 e somar ao valor de compra do veleiro. Só depois disso é que você poderá
comprar os equipamentos não essenciais que você acha que valem a pena ser
comprados.
Neste momento você saberá quanto da sua
poupança será usado na viagem de sua vida e se ela será suficiente, caso
contrário você precisa planejar algumas paradas para refazer seus fundos,
trabalhando onde der, naquilo que você souber ou quem sabe fazer charter ou
consertar barcos. Para alguns velejadores este é um meio de vida, para outros é
um martírio. Pense bem!
Casais e agregados e custos
A maioria dos barcos em cruzeiro por um
ano ou mais são administrados por casais e neste caso um barco entre 35 a 45
pés geralmente será a melhor opção, particularmente se o casal ainda não tem
muita experiência. O custo em tempo e energia para manter um veleiro de 50 ou
60 pés versus o custo de manter um veleiro de 40 pés é significativamente mais
alto, ainda mais se existir muita tecnologia embarcada, muitos eletrônicos,
muitos dispositivos elétricos, muitas horas de gerador, muito diesel, etc.
Atenção ao escolher o tamanho do barco porque
ele será um custo que te acompanhará por toda a viagem, quer você queira quer
não.
Um barco de 40 pés consome de 3 a 5
litros de diesel em velocidade de cruzeiro de 5 nós. Um barco de 50 pés
consumirá mais diesel para manter os mesmos 5 nós de velocidade. Fora o gerador
bebendo gasolina ou diesel para fazer funcionar as muitas luzes que você tem
dentro do seu veleiro. Economize o máximo que puder neste item. Tudo pode
depender do motor, da qualidade de combustível, da manutenção preventiva
obrigatória, etc.
Atualmente o custo para adquirir e
manter um barco de 50 pés está menor que no passado e estes barcos vêm com
sistemas que permitem navegação quase sem esforço, entretanto, os custos de
manutenção vão subindo paulatinamente a medida que os barcos vão ficando mais
velhos.
De regra geral um barco com 35 pés para
um casal é suficiente. Para cada agregado acrescente mais 5 pés, ou seja, um
casal com 2 filhos podem fazer uma bela viagem com um barco de 45 pés. Esta não
é regra absoluta como nada na vida é absoluto. Depende muito do seu estilo de
vida. Já houve casais com filhos que deram a volta ao mundo num veleiro de 29
pés, enquanto outros não conseguiram viver bem dentro de um veleiro de 54 pés.
Entenda que o tamanho do barco é
proporcional ao custo de mantê-lo, mas seu desejo de conforto e seu orçamento
definirão o tamanho do barco. Hoje em dia é comum você ver, em projetos
pensados para o cruzeiro em família, a existência de máquina de lavar roupa,
microondas, forno, televisão com dvd e sistema de som, etc. Tudo isto precisa
de espaço para ser acomodado, portanto pense em quais itens de conforto você
não abre mão e procure projetos que tenham estes itens. Só depois disto você
saberá o tamanho do barco que você procura.
No passado os cruzeiristas velejavam em
barcos de menos de 30 pés, pois não havia qualquer futilidade a bordo. Na
verdade os equipamentos não diferiam muito dos existentes nos veleiros do
século XIX e todos os trabalhos a bordo tinham de ser feitos à mão sem as
“facilidades” modernas.
Com a evolução tecnológica os barcos
precisaram ficar cada vez maiores para acomodar toda a tralha indispensável á
sobrevivência do ser humano, por isso os barcos estão ficando cada vez maiores
e não é de se estranhar um casal optando por um barco de mais de 45 pés.
Antes da era do conforto um barco de
mais de 45 pés seria impensável para um simples casal.
Tripulação
Lembre-se que barcos maiores fazendo
cruzeiros longos apresentam, muitas vezes, problemas para localizar ou manter
tripulantes necessários a atender as especificações dos locais onde você
pretende navegar.
Não se esqueça destas limitações porque
se você comprar um barco que precisa de dois tripulantes você precisará
planejar os turnos para que você sempre tenha dois tripulantes acordados e numa
tripulação com um casal e dois filhos pequenos isto será um grande
problema. Pouquíssimos viajantes ficam acordados o tempo todo durante a
travessia.
Contratar um tripulante para as
travessias apresentará mais um fator em termo de custos, mesmo que o tripulante
não cobre qualquer remuneração, pois ele consumirá recursos de qualquer forma,
além do que será uma pessoa a mais dormindo, comendo, vivendo junto com sua
família. Pense bem no tamanho para não ter esta dor de cabeça.
Doenças e dificuldades
Outra questão que influencia o tamanho
do barco é que você deve estar preparado para tocar sozinho seu barco, ou pior,
sua companheira deve estar preparada para fazer isso. Enjôo ou doença podem
afastar de maneira importante sua parceira ou mesmo você, deixando somente uma
pessoa para as tarefas da navegação, trocar ou recolher velas, ajustar e
planejar rumos, controlar equipamentos e detalhes que passam despercebidos
depois de 30 horas acordado debaixo de um tempo ruim, com ventos fortes e ondas
desencontradas.
Se optar por um barco acima de 40 pés
será importante colocar guinchos e catracas elétricas e para travessias, em
qualquer tamanho de barco será necessário colocar um piloto automático bem
dimensionado. Não economize neste equipamento. Ele vai salvar sua vida em
várias situações e a melhor coisa a fazer é estimar a capacidade com muita
cautela.
Avaliação Profissional do Barco: Survey
Se você não conhece sobre barcos, contrate
um profissional para avaliar o barco escolhido, antes da compra. Procure um
avaliador especializado no tipo de barco para o tipo de cruzeiro que você
pretende fazer. Pesquise você mesmo e procure este profissional, dando
preferência ao que você escolher. Estude o currículo dele e converse com
proprietários que já tenham usado os serviços deste profissional. Não aceite
surveyor que tenha algum tipo de interesse na transação, afinal você quer que a
avaliação seja sobre a segurança da compra e da navegação posterior. Lembre-se
que este profissional não irá navegar com você.
Se você tem algum profissional de sua
inteira confiança considere a possibilidade de pagar-lhe as despesas de
deslocamento para fazer uma avaliação profissional ao invés de contratar um
profissional local no qual você não deposita a mesma confiança. As empresas de
seguro náutico costumam recomendar este tipo de profissional, converse com
algum corretor de seguros especializado na área.
Em todos os casos, obtenha do
profissional um laudo por escrito com a recomendação de compra, o preço de
mercado, o preço da embarcação avaliada, suas considerações e anotações, os
problemas existentes e potenciais, as reformas necessárias e as que podem ser
planejadas e ao final, somente realize a compra se o profissional indicar que é
um bom barco e que é seguro para a navegação que você pretende fazer.
Quero comprar um barco usado
Um barco usado que fique guardado em
vaga seca por longos períodos envelhece muito mais devagar que um barco usado
guardado em vaga molhada. A diferença é de 1 para 2, ou seja se você comprar um
barco guardado no seco com 10 anos ele terá a mesma idade aparente que um barco
usado guardado na água por 5 anos.
Barcos mantidos profissionalmente são
mais valiosos que barcos mantidos por amadores. Existem, no exterior, empresas
especializadas em cuidados e manutenção dos barcos. Se for o caso exija um
certificado de proficiência da empresa que mantém o barco. Outra hipótese de
manutenção mais cuidadosa é a realizada diretamente pelo marinheiro
profissional da embarcação.
Nunca confie que marinas pequenas façam
manutenção preventiva, alias desconfie de guardarias e marinas quanto a
sugestões ou recomendações sobre qual barco comprar, elas, quase sempre, têm
interesse na venda.
Comprando um barco em outro país
Nunca se esqueça que para adquirir um
barco em outro país será necessária um transação em moeda corrente do local da
compra, o que pode implicar em escolher o melhor momento para comprar em função
da cotação de conversão da moeda escolhida. Quando dólar está em baixa pode ser
um bom momento para comprar, pois menos reais serão investidos na compra.
A situação econômica do país onde está
o barco a venda (usado em geral) deve ser considerada. Barcos de esporte e
recreio, em quase todos os locais do mundo, são considerados bens supérfluos.
Quando um país entra em recessão a classe média, que é em sua maioria a
detentora de veleiros de tamanhos variando entre 30 e 50 pés, acaba se vendo
forçada a vender seu barco porque ele representa um bem supérfluo que produz
despesas constantes.
Não se esqueça também que a escolha de
um barco também está relacionada com o local onde você pretende navegar. Se
você compra um barco de um fabricante Europeu para navegar no Brasil, lembre-se
que será muito interessante se este fabricante tiver um distribuidor ou um
revendedor aqui no Brasil. A aquisição de eventuais peças e serviços fica muito
facilitada o que, a longo prazo, pode baratear o custo total da propriedade do
barco.
Despesas com transporte, seguro e
impostos
No custo total da propriedade você não
pode esquecer que a aquisição no exterior para navegação no Brasil implicará em
custo de transporte e comissionamento (importação) aqui no Brasil, sem falar no
seguro específico para o transporte. Especialmente no caso Brasileiro você
compra um barco novo na França por $ 300.000 Euros e paga, somente de impostos,
quase o mesmo tanto que pagou para o estaleiro.
Projeto do barco e Construção
Se for possível contate o projetista do
barco antes de efetivar a compra. Poucos são os projetos realmente pensados para
travessias oceânicas. Você precisa saber se o construtor (estaleiro) seguiu os
critérios estabelecidos pelo projetista ao realizar a construção. Isto você só
pode acreditar realmente se conversar com diversos proprietários que dão aos
seus barcos o mesmo uso que você pretende dar ao seu. Não confie diretamente no
estaleiro sem ter certeza de quantos barcos estão navegando e qual o sucesso da
construção, além é claro das especificações de cada projeto.
Neste ponto é importante destacar que a
União Europeia fez várias leis para uniformizar a qualidade das embarcações
produzidas lá. Existe um índice de estabilidade estática (STIX - Stability
Index de 1 - 100) que para navegação oceânica deve ser atingido). Os veleiros
produzidos na CATEGORIA A de navegação oceânica podem variar, quanto a
estabilidade, em valores superiores a STIX = 33. Quanto maior o índice maior
será a estabilidade estática. Peça, inclusive, para o projetista que ele mostre
as curvas de estabilidade do casco em diversas condições de carregamento, e
peça que ele calcule a estabilidade do projeto com base no carregamento que
você pretende fazer durante sua viagem, mas lembre-se quanto mais estável é a
embarcação menor será o conforto, porque estabilidade demais pode transformar
um barco suave em um barco duro.
Outro aspecto importante é quanto a
legislação ambiental. Alguns países tem limitações, especialmente na Europa,
quanto a possibilidade de esgoto ser lançado diretamente nas águas. Se o barco
a ser comprado tem tratamento de esgoto, tenha certeza que ele segue as
especificações do local onde você pretende navegar.
Não se esqueça que em alguns lugares os
barcos são produzidos com corrente contínua de 12 volts e alternada de 110
volts. Isto pode implicar em problemas se você for navegar em locais onde a
corrente alternada do cais seja 220 volts.
Estaleiro ou construtor
Algumas vezes precisamos dizer o óbvio,
especialmente quando é óbvio para todo mundo então vamos lá: O construtor deve
ter entregue vários barcos para compradores que devem estar satisfeitos, caso
contrário fuja dele. Projetos inovadores são arriscados. Outra coisa importante
e um tanto óbvia é que se você vai comprar um barco usado opte por escolher um
que ainda seja construído ou que o estaleiro ainda exista e esteja em operação.
Aproveite para, usando o CNPJ do estaleiro fazer consulta na justiça Estadual,
Federal e nas varas do Trabalho. Esqueça isso e você poderá investir capital
bom em péssimo estaleiro.
Se o estaleiro ainda estiver em operação fica mais fácil comprar peças
de reposição e obter informações técnicas sobre o casco e sobre estabilidade,
além de considerar importante que o preço de revenda de um barco que ainda pode
ser construído ou mantido pelo estaleiro que o produziu é maior que se o
estaleiro não mais existir.
Bons Ventos!!