sábado, 15 de fevereiro de 2014

Qual Veleiro Comprar? Parte II

ESCOLHENDO O VELEIRO CERTO


Decidindo pela compra de um Barco com mais de 20 anos

Uma questão que precisa ser considerada é que um barco com 20 anos de uso precisa trocar o estaiamento, os tanques de combustível e de água, o motor, além de fazer melhorias no sistema elétrico trocando fiação e disjuntores. Tais melhorias podem chegar a 50% até 100% do valor de investimento inicial. Por isso pense bem antes de comprar um usado com 20 anos ou mais de uso. Você pode estar pagando somente a metade do valor no barco e a outra metade você vai pagar na reforma.

Contudo, se você tiver a sorte e persistência que eu tive pode encontrar um barco em que o dono já fez todas essas trocas, foi o meu caso! O Zabawa teve a parte elétrica toda trocada, armários, piso, motor retificado, entre inúmeros outros equipamentos trocados por volta de 2010, então, comprei um Brasília 32 de 1980 que está com aspecto interno e externo de um Barco de 2010!

Questões Financeiras Importantes

É comum se gastar na compra do barco mais que o orçamento inicial disponível ou mesmo gastar mais dinheiro em equipamentos não necessários ou essenciais e acabar ficando com pouca disponibilidade financeira para começar a utilizar o barco. Evite comprar um veleiro que não caiba no seu bolso, fica difícil mantê-lo e rapidamente se transformará num pesadelo com perda significativa de recursos.

O ideal para quem tem um orçamento limitado é gastar menos na compra de um veleiro que seja bem construído ou comprar um veleiro novo, porém um pouco menor que o veleiro dos seus sonhos. Em seguida você deve comprar os equipamentos necessários para o tipo de cruzeiro que você pretende fazer, sem os quais não será possível ter sucesso na empreitada, por questões de segurança ou mesmo por questões de obrigações legais.

Se você deseja fazer um cruzeiro de um ano ou mais, você deve calcular que um casal consumirá, em cruzeiro, entre R$ 1.500 e R$ 3.000 por mês, considerando pequenas despesas com o barco. Se o objetivo for fazer um cruzeiro pelo prazo de um ano, o casal deverá ter, além do capital para compra do veleiro, disponível o equivalente a R$ 36.000. Depois de calculado o prazo total em anos da viagem você deverá multiplicar por R$ 36.000 e somar ao valor de compra do veleiro. Só depois disso é que você poderá comprar os equipamentos não essenciais que você acha que valem a pena ser comprados.

Neste momento você saberá quanto da sua poupança será usado na viagem de sua vida e se ela será suficiente, caso contrário você precisa planejar algumas paradas para refazer seus fundos, trabalhando onde der, naquilo que você souber ou quem sabe fazer charter ou consertar barcos. Para alguns velejadores este é um meio de vida, para outros é um martírio. Pense bem!

Casais e agregados e custos

A maioria dos barcos em cruzeiro por um ano ou mais são administrados por casais e neste caso um barco entre 35 a 45 pés geralmente será a melhor opção, particularmente se o casal ainda não tem muita experiência. O custo em tempo e energia para manter um veleiro de 50 ou 60 pés versus o custo de manter um veleiro de 40 pés é significativamente mais alto, ainda mais se existir muita tecnologia embarcada, muitos eletrônicos, muitos dispositivos elétricos, muitas horas de gerador, muito diesel, etc.

Atenção ao escolher o tamanho do barco porque ele será um custo que te acompanhará por toda a viagem, quer você queira quer não.

Um barco de 40 pés consome de 3 a 5 litros de diesel em velocidade de cruzeiro de 5 nós. Um barco de 50 pés consumirá mais diesel para manter os mesmos 5 nós de velocidade. Fora o gerador bebendo gasolina ou diesel para fazer funcionar as muitas luzes que você tem dentro do seu veleiro. Economize o máximo que puder neste item. Tudo pode depender do motor, da qualidade de combustível, da manutenção preventiva obrigatória, etc.

Atualmente o custo para adquirir e manter um barco de 50 pés está menor que no passado e estes barcos vêm com sistemas que permitem navegação quase sem esforço, entretanto, os custos de manutenção vão subindo paulatinamente a medida que os barcos vão ficando mais velhos.

De regra geral um barco com 35 pés para um casal é suficiente. Para cada agregado acrescente mais 5 pés, ou seja, um casal com 2 filhos podem fazer uma bela viagem com um barco de 45 pés. Esta não é regra absoluta como nada na vida é absoluto. Depende muito do seu estilo de vida. Já houve casais com filhos que deram a volta ao mundo num veleiro de 29 pés, enquanto outros não conseguiram viver bem dentro de um veleiro de 54 pés.

Entenda que o tamanho do barco é proporcional ao custo de mantê-lo, mas seu desejo de conforto e seu orçamento definirão o tamanho do barco. Hoje em dia é comum você ver, em projetos pensados para o cruzeiro em família, a existência de máquina de lavar roupa, microondas, forno, televisão com dvd e sistema de som, etc. Tudo isto precisa de espaço para ser acomodado, portanto pense em quais itens de conforto você não abre mão e procure projetos que tenham estes itens. Só depois disto você saberá o tamanho do barco que você procura.

No passado os cruzeiristas velejavam em barcos de menos de 30 pés, pois não havia qualquer futilidade a bordo. Na verdade os equipamentos não diferiam muito dos existentes nos veleiros do século XIX e todos os trabalhos a bordo tinham de ser feitos à mão sem as “facilidades” modernas.

Com a evolução tecnológica os barcos precisaram ficar cada vez maiores para acomodar toda a tralha indispensável á sobrevivência do ser humano, por isso os barcos estão ficando cada vez maiores e não é de se estranhar um casal optando por um barco de mais de 45 pés.

Antes da era do conforto um barco de mais de 45 pés seria impensável para um simples casal.

Tripulação

Lembre-se que barcos maiores fazendo cruzeiros longos apresentam, muitas vezes, problemas para localizar ou manter tripulantes necessários a atender as especificações dos locais onde você pretende navegar.

Não se esqueça destas limitações porque se você comprar um barco que precisa de dois tripulantes você precisará planejar os turnos para que você sempre tenha dois tripulantes acordados e numa tripulação com um casal e dois filhos pequenos isto será um grande problema. Pouquíssimos viajantes ficam acordados o tempo todo durante a travessia.

Contratar um tripulante para as travessias apresentará mais um fator em termo de custos, mesmo que o tripulante não cobre qualquer remuneração, pois ele consumirá recursos de qualquer forma, além do que será uma pessoa a mais dormindo, comendo, vivendo junto com sua família. Pense bem no tamanho para não ter esta dor de cabeça.

Doenças e dificuldades

Outra questão que influencia o tamanho do barco é que você deve estar preparado para tocar sozinho seu barco, ou pior, sua companheira deve estar preparada para fazer isso. Enjôo ou doença podem afastar de maneira importante sua parceira ou mesmo você, deixando somente uma pessoa para as tarefas da navegação, trocar ou recolher velas, ajustar e planejar rumos, controlar equipamentos e detalhes que passam despercebidos depois de 30 horas acordado debaixo de um tempo ruim, com ventos fortes e ondas desencontradas.

Se optar por um barco acima de 40 pés será importante colocar guinchos e catracas elétricas e para travessias, em qualquer tamanho de barco será necessário colocar um piloto automático bem dimensionado. Não economize neste equipamento. Ele vai salvar sua vida em várias situações e a melhor coisa a fazer é estimar a capacidade com muita cautela.

Avaliação Profissional do Barco: Survey

Se você não conhece sobre barcos, contrate um profissional para avaliar o barco escolhido, antes da compra. Procure um avaliador especializado no tipo de barco para o tipo de cruzeiro que você pretende fazer. Pesquise você mesmo e procure este profissional, dando preferência ao que você escolher. Estude o currículo dele e converse com proprietários que já tenham usado os serviços deste profissional. Não aceite surveyor que tenha algum tipo de interesse na transação, afinal você quer que a avaliação seja sobre a segurança da compra e da navegação posterior. Lembre-se que este profissional não irá navegar com você.

Se você tem algum profissional de sua inteira confiança considere a possibilidade de pagar-lhe as despesas de deslocamento para fazer uma avaliação profissional ao invés de contratar um profissional local no qual você não deposita a mesma confiança. As empresas de seguro náutico costumam recomendar este tipo de profissional, converse com algum corretor de seguros especializado na área.

Em todos os casos, obtenha do profissional um laudo por escrito com a recomendação de compra, o preço de mercado, o preço da embarcação avaliada, suas considerações e anotações, os problemas existentes e potenciais, as reformas necessárias e as que podem ser planejadas e ao final, somente realize a compra se o profissional indicar que é um bom barco e que é seguro para a navegação que você pretende fazer.

Quero comprar um barco usado

Um barco usado que fique guardado em vaga seca por longos períodos envelhece muito mais devagar que um barco usado guardado em vaga molhada. A diferença é de 1 para 2, ou seja se você comprar um barco guardado no seco com 10 anos ele terá a mesma idade aparente que um barco usado guardado na água por 5 anos.

Barcos mantidos profissionalmente são mais valiosos que barcos mantidos por amadores. Existem, no exterior, empresas especializadas em cuidados e manutenção dos barcos. Se for o caso exija um certificado de proficiência da empresa que mantém o barco. Outra hipótese de manutenção mais cuidadosa é a realizada diretamente pelo marinheiro profissional da embarcação.

Nunca confie que marinas pequenas façam manutenção preventiva, alias desconfie de guardarias e marinas quanto a sugestões ou recomendações sobre qual barco comprar, elas, quase sempre, têm interesse na venda.

Comprando um barco em outro país

Nunca se esqueça que para adquirir um barco em outro país será necessária um transação em moeda corrente do local da compra, o que pode implicar em escolher o melhor momento para comprar em função da cotação de conversão da moeda escolhida. Quando dólar está em baixa pode ser um bom momento para comprar, pois menos reais serão investidos na compra.

A situação econômica do país onde está o barco a venda (usado em geral) deve ser considerada. Barcos de esporte e recreio, em quase todos os locais do mundo, são considerados bens supérfluos. Quando um país entra em recessão a classe média, que é em sua maioria a detentora de veleiros de tamanhos variando entre 30 e 50 pés, acaba se vendo forçada a vender seu barco porque ele representa um bem supérfluo que produz despesas constantes.

Não se esqueça também que a escolha de um barco também está relacionada com o local onde você pretende navegar. Se você compra um barco de um fabricante Europeu para navegar no Brasil, lembre-se que será muito interessante se este fabricante tiver um distribuidor ou um revendedor aqui no Brasil. A aquisição de eventuais peças e serviços fica muito facilitada o que, a longo prazo, pode baratear o custo total da propriedade do barco.

Despesas com transporte, seguro e impostos

No custo total da propriedade você não pode esquecer que a aquisição no exterior para navegação no Brasil implicará em custo de transporte e comissionamento (importação) aqui no Brasil, sem falar no seguro específico para o transporte. Especialmente no caso Brasileiro você compra um barco novo na França por $ 300.000 Euros e paga, somente de impostos, quase o mesmo tanto que pagou para o estaleiro.

Projeto do barco e Construção

Se for possível contate o projetista do barco antes de efetivar a compra. Poucos são os projetos realmente pensados para travessias oceânicas. Você precisa saber se o construtor (estaleiro) seguiu os critérios estabelecidos pelo projetista ao realizar a construção. Isto você só pode acreditar realmente se conversar com diversos proprietários que dão aos seus barcos o mesmo uso que você pretende dar ao seu. Não confie diretamente no estaleiro sem ter certeza de quantos barcos estão navegando e qual o sucesso da construção, além é claro das especificações de cada projeto.

Neste ponto é importante destacar que a União Europeia fez várias leis para uniformizar a qualidade das embarcações produzidas lá. Existe um índice de estabilidade estática (STIX - Stability Index de 1 - 100) que para navegação oceânica deve ser atingido). Os veleiros produzidos na CATEGORIA A de navegação oceânica podem variar, quanto a estabilidade, em valores superiores a STIX = 33. Quanto maior o índice maior será a estabilidade estática. Peça, inclusive, para o projetista que ele mostre as curvas de estabilidade do casco em diversas condições de carregamento, e peça que ele calcule a estabilidade do projeto com base no carregamento que você pretende fazer durante sua viagem, mas lembre-se quanto mais estável é a embarcação menor será o conforto, porque estabilidade demais pode transformar um barco suave em um barco duro.

Outro aspecto importante é quanto a legislação ambiental. Alguns países tem limitações, especialmente na Europa, quanto a possibilidade de esgoto ser lançado diretamente nas águas. Se o barco a ser comprado tem tratamento de esgoto, tenha certeza que ele segue as especificações do local onde você pretende navegar.

Não se esqueça que em alguns lugares os barcos são produzidos com corrente contínua de 12 volts e alternada de 110 volts. Isto pode implicar em problemas se você for navegar em locais onde a corrente alternada do cais seja 220 volts.

Estaleiro ou construtor

Algumas vezes precisamos dizer o óbvio, especialmente quando é óbvio para todo mundo então vamos lá: O construtor deve ter entregue vários barcos para compradores que devem estar satisfeitos, caso contrário fuja dele. Projetos inovadores são arriscados. Outra coisa importante e um tanto óbvia é que se você vai comprar um barco usado opte por escolher um que ainda seja construído ou que o estaleiro ainda exista e esteja em operação. Aproveite para, usando o CNPJ do estaleiro fazer consulta na justiça Estadual, Federal e nas varas do Trabalho. Esqueça isso e você poderá investir capital bom em péssimo estaleiro.


Se o estaleiro ainda estiver em operação fica mais fácil comprar peças de reposição e obter informações técnicas sobre o casco e sobre estabilidade, além de considerar importante que o preço de revenda de um barco que ainda pode ser construído ou mantido pelo estaleiro que o produziu é maior que se o estaleiro não mais existir.

Bons Ventos!!

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